Para os
astrólogos de então, começa uma fase de especulações sobre o “novo” planeta
batizado como Éris, nome que parece muito propício, dado o fato de que sua
descoberta sincronizou-se com fatos polêmicos e tumultuosos.
Sua
classificação como planeta foi uma das questões mais conturbadas que a
astronomia já viu. E ocasionou o desterro de Plutão, para o malfadado grupo dos
planetas “anões”, se é que isso significa alguma coisa. Haja vista que um
planeta é plante e pronto, ao menos para os astrólogos. O Sol e Lua não são
planetas propriamente ditos, sendo assim questões sobre o valor astrológico de
Plutão são insignificantes.
Entretanto
o evento de sua “queda” não deixa de revelar aspectos de sua simbologia e da
simbologia de Éris, que parece estar bem relacionada com ele. Ambos foram
chamados pelos astrônomos de planetas “gêmeos” em 2011, quando foi possível
medir o raio de Éris e chegar a conclusão que tem praticamente o mesmo tamanho
que Plutão, sendo um pouco maior.
Mas
deixando as especulações sobre Plutão para uma próxima postagem, quero me ater
a Éris. A escolha do próprio nome foi influenciada por reflexões astrológica.
Segundo Michael E. Brown “descobridor” de Éris, ele ficou tão espantado com
certos fatos ocorridos após a descoberta, que considerou que não podia haver
outro nome senão Éris.
Isso porque
Éris é a nefasta deusa da Discórdia na mitologia grega. Personagem de poucos
mitos, ela se tornou célebre por causar uma briga entre as mais poderosas
deusas do Olimpo, o que culminou com a famosa Guerra de Tróia. Tudo por não ter
sido convidada para o casamento do rei aqueu Peleu, e da deusa marinha Tétis,
pais do herói Aquiles.
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deusa Éris ao estilo de Gustav Klimt |
Mas muitos,
principalmente astrólogos, ficaram aborrecidos com essa escolha, pois esperavam
que Brown desse o nome de Prosérpina, a esposa de Plutão, ao planeta. Plutão
então teria sua esposa como companheira astronômica e astrológica.
Eu mesmo
fiquei decepcionado, entretanto como estou sendo estudando cultura antigas da
região mediterrânea, além de possuir um conhecimento sistematizado da mitologia
grega e seus aspectos, reparei em similaridades que até então nunca havia
percebido. Somente depois que Éris veio à público cheguei a esses conclusões
das quais falarei agora.
O nome Éris
lembra muito eresh que na escrita cuniforme dos
sumérios se traduz como “senhora”. E eresh é a primeira parte do nome de uma das
mais importantes e temíveis divindades dos sumérios/mesopotâmicos, a rainha do
Inferno: Ereshkigal.
Seu nome
pode ser traduzido como “a grande senhora da terra (inferior)”. O sufixo gal é um adjetivo que demonstra suas
qualidades soberana, por isso pode ser traduzido como “grande”, “perfeita” ou
até mesmo “formidável”.
O reino de
Ereshkigal é Kurnugia “a terra do não-retorno”, nome que deixa bem claro a
principal característca de seus domínios, ela é a senhora da morte e de tudo
que lhe diz respeito.
Segundo uma
das variantes do mito sumério, Ereshkigal era filha de Anu, deus do céu, e foi
raptada por Kur, seu meio-irmão e uma divindade do mundo inferior. Pouco se
sabe sobre esse mito, mas ao que tudo indica Kur fez de Ereskigal a rainha de
Kurnugia.
Os mitos
posteriores e a crença colocaram Ereshkigal numa posição superior e Kur parece
ter tornado apenas um demônio aos seus serviços. Além disso, Ereshkigal nunca
esteve satisfeita com o que lhe aconteceu e sempre expressou seu rancor pelos
pais e irmãos, que nada fizeram para salvá-la.
Ereshkigal
e Nergal:
Outro mito
fala de sua união com Nergal, o deus das guerras que representava o sol como
força maléfica que queima e destrói colheitas. Homem belo e viril, Nergal
possuía o defeito da fanfarronice, e em certa oportunidade não demonstrou o
devido respeito a Namtar, que era vizir de Ereshkigal, dizendo que não faria
reverencia ao vizir de uma deusa que ele não conhecia nem nunca vira (Nergal
era filho de Enlil, irmão de Ereshkigal portanto seu sobrinho).
Os deuses
então temeram por sua atitude sem juízo, e ele se viu em apuros. Enki
aconselhou a levar um trono como presente a Ereshkigal, mas que recusasse sua
gentileza, comida ou banho devido a longa viagem. Nergal desceu do céu e foi
ter com Ereshkigal, atravessou os nove portões de seu reino e se apresentou com
o presente.
Entretanto,
pensado estar diante de uma velha frágil e decadente, desembainhou sua espada e
pô-la ao pescoço de Ereshkigal ameaçando-a e exigindo seu trono em troca da
liberdade. A deusa que então estava oculta pode seu disfarce, fingiu temor e
solicitou a Nergal tempo para banhar-se e se colocar aos seus serviços.
Demorando
em sua toilette, a deusa
provocou a curiosidade de Nergal, que invadiu seus aposentos e encontrou no
lugar de uma velha, uma magnífica donzela. Ereshkigal fingiu surpresa com a
invasão e ofereceu-se na cama a ele.
Nergal não
resistiu a beleza e prazeres de Ereshkigal, não viu passar seis dias, amando,
banqueteado e sendo cuidado pelos sequazes da deusa. Mas no sétimo dia, ele
fugiu. Namtar, o vizir, testemunhou sua fuga e delatou a sua senhora.
Ereshkigal
então ameaçou os demais deuses dizendo que alastraria a peste e a fome sobre a
humanidade, casou Nergal não voltasse para seu lado. Um tribunal foi feito e a
deusa denunciou seu amante dizendo que lhe fizera jurar e promessas, e que fora
enviado por Anu, para se juntar a ela no governo de Kurnugia. Diante disso Nergal
não pode fugir ao seu destino, e foi exilado pelos deuses para as terras de
Kurnugia, como esposo de Ereshkigal.
A
rivalidade de Ereshkigal e Inanna:
Outro mito
célebre fala da vingança de Ereshkigal contra sua irmã Inanna. Ao que parece o
motivo da rivalidade entre as irmãs é obscuro. O que se pode intuir é que ambas
talvez fossem rivais na beleza. E sendo Inanna uma deusa vaidosa e orgulhosa
não admitia comparações. Como deusa do amor ela pode ter incitado a paixão de
Kur pela irmã, que a raptou. E não podendo mais voltar a “viver” entre os
outros deuses, Ereshkigal passou a nutrir rancor e raiva por Inanna.
Sendo
rejeitada por Gilgamesh, Inanna enviou Gulgalanna para matar o herói. Ocorre
que Gulgalanna foi o primeiro esposo de Ereshkigal, no tempo em que vivia no
céu. Gilgamesh matou Gulgalanna.
Inanna,
sentindo-se culpada decidiu descer ao inferno para buscar Gulgalanna mas
Ereshkigal não permitiria isso, já que seu antigo amor, estava novamente ao eu
lado.
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Ereshkigal rainha de Kurnugia |
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Inanna
então chamou seu vizir Ninshubur e o aconselhou a pedir ajuda a Enlil, Nanna e
Enki caso ela não retornasse dentro de três dias. Então partiu para Kurnugia,
mas na medida em que atravessava os portões de Kurnugia, Inanna era humilhada,
e obrigada a se desfazer de suas jóias, lenços e peças de roupas.
Ereshkigal
encarregou Neti, um de seus sequazes, de tornar a visita da irmã tão
insuportável, que ela acabaria retornando e desistindo de Gulgalanna.
Porém Inanna suportou e chegou à presença de Ereshkigal. Ao pedir por
Gulgalanna, Inanna foi mais uma vez humilhada, e não bastando isso, Ereshkigal
a empalou. Passados três dias Ninshubur não vira o retornou de sua senhora e
foi ter com os grandes deuses. Mas apenas Enki aceitou ajudar, Enlil e Nanna
disseram que não interfeririam em assuntos de Ereshkigal.
Enki juntou
a sujeira debaixo das suas unhas e criou duas divindades assexuadas chamadas
Galatur(a) e Kurjara (Kurgarra) e os enviou a Kurnugia para resgatar Inanna,
mas antes os instruiu sobre como enganar Ereshkigal para cumprir com a missão.
Os
carpidores criados por Enki, levavam a água da vida para resgatar Inanna.
Disfarçados como moscas, passaram pelos portões de Kurnugia sem dificuldades e
chegando à presença de Ereshkigal. Segundo o mito que parece obscuro, ela
estava sofrendo de uma moléstia ou estava grávida e não conseguia parir. É
possível que Enki, deus-mago talvez tivesse provocado a doença de Ereshkigal,
para que assim os carpidores pudessem negociar. Eles conheciam a forma de
curá-la e se dispõem a isso, em troca da vida de Inanna. Ereshkigal cedeu para
obter alívio, e os carpidores restituíram a vida de Inanna com a água da vida.
Entretanto,
ela não podia retornar, a menos que alguém ficasse em seu lugar. Os servos de
Ereshkigal indicaram Ninshubur, mas Inanna se recusava a deixar o servo tão
diligente no inferno, pois ele estava de luto. Depois indicaram Cara, que
cuidava da toitelle da deusa, mas ele também estava de
luto, e Inanna se recusa a deixá-lo em seu lugar. Depois foi a vez de seus
pequenos filhos, Lulal e Shara, mas eles também estavam de luto pela mãe.
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deusa Éris ao estilo Nouveau de Alphonse Mucha |
Enfim os
demônios lhe mostraram que seu esposo Dumuzi, ao contrário dos outros estava
vestido com roupas coloridas, comendo e bebendo sob uma árvore, enquanto era
servido por belas servas. Inanna não pensou duas vezes e escolheu Dumuzi para
trocar de lugar com ela.
Então
Dumuzi foi levado pelos lacaios de Ereshkigal.Inanna continuava a amá-lo, mas
não podia dispor de ninguém para substituí-lo junto a Ereshkigal, foi
então que Geshtianna, irmã de Dumuzi se dispôs a substituir o irmão por seis
meses em Kurnugia. E enquanto ela cumpria com sua promessa no inferno, ela
podia gozar do amor de Ianna por seis meses do ano.
Mitos relações
e interpretações:
Esses mitos possuem detalhes marcantes que podem ser identificados em mitos
greco-romanos. Nergal por exemplo assume aspectos tanto de Marte como de
Plutão. Há um deus que morre, no caso Dumuzi e que volta a vida tal com a
vegetação. Há, portanto um paralelo com Adônis, ele mesmo o pivô de um desafeto
entre Prosérpina e Vênus. Estas deusas por sua vez, assumem os papéis de
Ereshkigal e Inanna.
Não seria portanto um erro, procurar nos mitos de Ereshkigal aspectos que
reflitam as manifestações astrológicas de Éris. Ao passo que Éris, parece ser
dual. Enquanto representa a própria deusa da discórdia, também, através de
Ereshkigal, mostra nuances de Prosérpina, deusa greco-romana e esposa de Plutão.
Quanto ao seu significado, só podemos especular na medida em que assistimos seu
trânsito extremamente lento. Mas eu convido as pessoas que agora estão
observando Urano transitar dentro de Áries que olhem em seus mapas natais a
posição de Éris e vejam se Urano não está conjunto a ela. Com certeza pessoas
com 30 ou 31 anos, devem estar sofrendo algum tipo de manifestação uraniana
sobre a Éris natal.
Com certeza alguma questão de briga, polêmica, ofensas ditas, questões
jurídicas, escancândalo. Sem falar que devem andar muito irritadiças, talvez
falastronas e até criando discussões ou indo contra alguma opinião por puro e
simples esporte. Esses indivíduos devem estar se sentido agressivos demais, por
a raízes de tudo isso deve estar em alguma forma de exclusão ou ausência de
reconhecimento de mérito. Aposto até em honra ferida ou alguma forma de ultraje
pelo que está passando.
Isso pode ser visto nos mitos de Éris, ela é preterida pelos deuses, que fazem
questão de não honrá-la, e evitam convidá-la para o casamento de Peleu e Tétis.
Da mesma forma, Éris se vinga causando uma situação discordante e vexatória:
obriga Júpiter a escolher três belas deusas para serem julgadas, tendo como
prêmio a maçã dourada. No fim Vênus leva a maçã, enquanto que Juno e Palas,
ofendidas e preteridas, considerando a falta de gabarito do juiz, irão procurar
meios para reparar as suas honras.
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Mapa da descoberta de Éris |
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